Pregando dentro dos limites do texto bíblico


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Qualquer porção das Escrituras, jamais está isolada do seu contexto, seja este o contexto imediato (versículos e/ou capítulos), seja o contexto ampliado (livro), seja todo o contexto (bíblia).

Portanto, saber onde se inicia e termina uma seção do texto bíblico (os limites da passagem), é fundamental para que o pregador possa estar consciente do contexto imediato a qual uma determinada passagem faz referência. E saiba também como explicar e aplicar a mensagem apropriadamente, segundo a intenção do autor e a inspiração Divina, pregando com objetividade, foco e unidade.

O estudo indutivo de Mateus 16.24 nos dá um exemplo prático de como determinar o contexto imediato de uma passagem, que quando tomada por separada de seu contexto, pode criar equívocos em sua interpretação.

As Bíblias hoje em dia facilitam a identificação dos limites da passagem com marcadores: elas são dividas por versículos, capítulos e possuem também geralmente um título para porção de texto que se segue.

No entanto, sabemos que as Escrituras foram escritas sem estes marcadores, portanto em algumas situações os capítulos e versículos nem sempre irão dividir corretamente o limite da passagem – assim como os títulos de seções nem sempre refletirão o tema mais importante da porção que se segue.

Como então identificar e definir os limites da passagem?

Os limites da passagem também são conhecidos como unidade literária. Aqui estão cinco diretrizes simples para ajudá-lo a estabelecer unidades literárias ou limites da passagem.

1. Não siga automaticamente as divisões de capítulos e versículos

Estes não faziam parte do texto bíblico original. Eles não são sagrados e, na verdade, nem sempre são precisos. Por isso, é importante que você avalie com cuidado por conta própria onde a passagem começa e termina.

2. Lembre-se de que algumas obras de múltiplos volumes em nossas Bíblias eram livros únicos na Bíblia de Jesus

Quando os videntes, sábios e cantores israelitas originalmente escreveram o Antigo Testamento, usaram apenas consoantes. Claro, as palavras foram ditas com vogais, mas as vogais não foram escritas. Isso possibilitou escrever até grandes livros como 1-2 Samuel, 1-2 Reis e 1-2 Crônicas em pergaminhos simples.

Mas quando os judeus traduziram o Antigo Testamento para o grego do terceiro ao segundo século a.C., porém, incluíram as vogais, de modo que os livros duplicaram de tamanho e os livros mais longos precisaram de mais de um pergaminho para serem reproduzidos.

E as divisões de livros de nossas Bíblias são baseadas nas divisões gregas do Antigo Testamento, não no hebraico original.

Então, quando você está trabalhando com unidades literárias em livros como Samuel, Reis, Crônicas e até mesmo Esdras-Neemias (que é um único livro no Velho Testamento hebraico), lembre-se que todos eles eram originalmente volumes únicos. Assim, as unidades literárias poderiam cruzar os limites do “livro”.

3. Procure por marcadores iniciais e finais reconhecíveis

Em português, uma forma de sinalizar quebras de seção é recuando parágrafos. Nós usamos aspas para marcar os discursos. Começamos as histórias dizendo coisas como “Era uma vez”. Esses são sinais de trânsito para os leitores e ouvintes, dizendo-lhes que algo novo está chegando. Os autores bíblicos usaram muitos recursos similares para guiar a compreensão dos ouvintes sobre a estrutura e a mensagem de seus escritos.

Palavras comuns que introduzem um novo parágrafo nas epístolas são conjunções como “mas” e “portanto”. Novas seções nos profetas podem ser marcadas por “assim diz o Senhor”.

Você também pode discernir um novo parágrafo por uma mudança de tópico. Por exemplo, mudanças na cena ou no personagem principal dividem as narrativas. Na poesia, o final de um parágrafo é às vezes sinalizado por um refrão. Um resumo de um argumento em uma epístola revela o fim de uma unidade de pensamento. Uma exortação pode marcar o início ou o final de um parágrafo também.

4. Tratar as unidades literárias como totalidades

A estrutura natural para a comunicação verbal não é uma única palavra ou uma única cláusula, mas todo um texto. Normalmente, um texto é composto de uma sequência de cláusulas, seja curta (uma resposta a uma pergunta) ou longa (um livro).

Textos extensos muitas vezes se dividem em partes distintas ou pacotes literários independentes. Quando você está interpretando uma passagem bíblica, você precisa trabalhar com todas essas unidades de pensamento.

Ao interpretar a narrativa, isso significa que você precisa lidar com cenas inteiras à luz dos episódios. Por exemplo, você não consegue interpretar corretamente a cena da esposa de José e de Potifar em Gênesis 39, fora do episódio de todo o capítulo.

Nos sermões proféticos, certifique-se de interpretar cada parágrafo à luz do oráculo geral.

Ao trabalhar com poesia, você precisa estudar uma unidade inteira, como um salmo, não apenas um único parágrafo. A poesia é construída com linhas, que compõem estrofes, que juntas formam um poema inteiro. Você precisa interpretar cada linha à luz da estrofe em que está, e cada estrofe à luz do poema em que está.

Nas epístolas, você precisa interpretar versos individuais à luz do argumento que o autor está fazendo, e cada argumento à luz da mensagem geral da carta.

5. Verifique sua decisão em relação às traduções modernas e, se possível, ao texto do idioma original

Nas modernas versões da Bíblia, os tradutores sinalizam quebras de parágrafos e distinguem as unidades literárias por indentação (em algumas Bíblias a primeira letra da unidade literária está em negrito). Edições críticas modernas do Antigo Testamento hebraico e do Novo Testamento grego também fazem isso. Essas divisões não são infalíveis, mas se você decidir começar ou terminar a sua passagem onde nenhum editor ou tradutor tem, então é sua responsabilidade argumentar totalmente para sua decisão.

5 diretrizes simples para estabelecer a unidade literária extraída do curso Phrasing em Bible Arc.


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