Nesta série sobre a mensagem do pregador, já vimos qual deve ser o seu conteúdo, e vimos também a respeito do seu poder. No artigo que se segue nos despedimos desta série enfatizando o objetivo da mensagem do pregador.
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O objetivo da Mensagem do Pregador
Em geral, toda pregação bíblica tem por objetivo a persuasão para a vida da fé. “A pregação é um testemunho pessoal com o objetivo de comunicar fé e convicção.” O sermão é “o lugar de encontro da alma com Deus” e procura canalizar a graça de Deus para crentes e descrentes. Andrew W. Blackwood faz a observação de que Phillips Brooks, em cerca da metade dos seus 200 sermões publicados, dirigiu-se a pessoas que buscavam a Deus; e na outra metade a pessoas que já O tinham encontrado. Spurgeon, em seus sessenta e três volumes de sermões, seguiu quase o mesmo curso, batendo aproximadamente a mesma proporção.
O sermão que visa à salvação “deve revestir-se de características edificantes; e o sermão pregado primariamente para a edificação dos ouvintes deve possuir características salvadoras”. Salientar a conversão ou a nutrição cristã sem o outro aspecto seria como procurar produzir raízes sem frutos, ou frutos sem raízes. A fé e a ação, a verdade e o dever, devem andar de mãos dadas.
Em toda pregação bíblica Deus procura primariamente, mediante o Seu mensageiro, trazer o homem para comunhão Consigo. O objetivo é, pois não meramente infundir conhecimento, ou provocar pensamento, ou despertar as emoções, mas mover a vontade para uma resposta afirmativa. E a proposta que salva a alma é sempre, necessariamente, a resposta de uma pessoa a uma Pessoa. Uma fé válida, salvadora, não é apenas a aceitação de um “modo de VIVER”, de uma filosofia, de um princípio ou conjunto de princípios. É a resposta da criatura ao seu Criador, do súdito ao seu legítimo Soberano, da alma ao Salvador. A única resposta salvadora é a de Saulo de Tarso: “Que farei Senhor?” (Atos 9.6; 22.10). Esta resposta ao Cristo ressurrecto é a própria senha para entrada no reino de Deus. “Se alguém entrar por mim, será salvo …” (João 10.9). Não há outro caminho (Atos 4.12). Quando Jesus estava provando Pedro em sua fé, não disse: “Pedro, tu amas aos meus princípios, a minha política administrativa, o meu programa?”; mas , “tu me amas?” (João 21.17).
Após a salvação, a ênfase é às “coisas que acompanham a salvação” (Hb 6.9). A necessária nutrição e motivação da vida cristã envolve os seguintes objetivos específicos:
(a) Consagração, com vistas a uma devoção e uma entrega a Cristo e à “vida separada” cada vez mais profundas. “Rogo-vos … que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo …” (Rm 12.1).
(b) Doutrinação, “para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todos vento de doutrina …” (Ef 4.14).
(c) Consolação. “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (1Ts 4.18). “Consolai o meu povo” (Is 40.1), não é menos imperativo do que convocá-lo para o arrependimento ou levantá-lo para a ação heróica ou sacrifical.
(d) Fortalecimento. Os crentes precisam ser confirmados e fortificados na fé, “fortalecidos … em toda a perseverança e longanimidade …” (Cl 1.11).
(e) Convicção. Moles conjecturas e opiniões sustentadas debilmente precisam amadurecer, transformando-se em convicções antes de poderem ser partilhadas proveitosamente. Os apóstolos falavam de convicção profunda quando diziam: “nós não podemos deixar de falar das cousas que vimos e ouvimos” (Atos 4.20).
(f) Ação. “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra, e não somente ouvintes …” (Tg 1.22).
A pregação deve ter por finalidade comunicar: “todo o desígnio de Deus” (Atos 20.27), em todos os níveis de maturidade e entendimento. Os jovens, os robustos, os ambiciosos, têm necessidades, como também os velhos, os fracos e os abatidos. Todos igualmente precisam ser conduzidos Àquele que é Fonte de todo auxílio. A prova suprema de toda pregação é: Que acontece com o ouvinte? A João Batista foi concedido o mais alto tributo que jamais poderia vir a um ministro do Evangelho: Quando ouviram João, “seguiram a Jesus” (João 1.37)!
Trecho extraído do livro Pregação Expositiva sem Anotações, de Charles Koller.