Whitefield: A Regeneração


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“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. 2 Coríntios 5:17

A doutrina da nossa regeneração, ou o novo nascimento em Cristo Jesus, embora seja uma das doutrinas mais fundamentais da nossa santa religião, e embora tenha sido tão claramente e muitas vezes enfatizada nos escritos sagrados, de sorte “que aquele que passa correndo ainda assim possa ler”, e embora seja a própria articulação na qual a salvação de cada um de nós se firma e um ponto em que todos os cristãos sinceros, de todas as denominações, estão de acordo, no entanto, é tão raramente considerada e tão pouco experimentalmente entendida pela maioria dos que a professam, que quem seríamos nós para julgar a veracidade disso pela experiência da maioria dos que se dizem cristãos, nós devemos estar aptos a imaginar que não temos “ainda ouvido ” se há alguma coisa como a regeneração ou não.
É verdade, os homens, em sua maioria são ortodoxos nos artigos comuns do seu credo. Eles acreditam que “há um só Deus” e um só Mediador entre Deus e os homens, até mesmo creem que seja “o homem Cristo Jesus”, e que não há outro Nome debaixo do céu pelo qual eles possam ser salvos além dEle. Mas, em seguida, se lhes dizemos que eles devem ser regenerados, que eles devem nascer de novo, que eles devem ser renovados no próprio espírito, nas faculdades mais íntimas de suas mentes antes que eles possam realmente chamar Cristo de “Senhor, Senhor”, ou ter uma evidência de que eles tenham qualquer participação nos méritos de Seu sangue precioso, então eles estarão prontos para gritar com Nicodemos: “Como pode ser isso?” Ou como os atenienses, em outra ocasião, “o que quer dizer esse tagarela? Parece ser um porta-voz de doutrinas estranhas”, porque nós pregamos-lhes Cristo e o novo nascimento.

Que eu possa, portanto, contribuir para a cura dessa lepra, o erro fatal de tais pessoas, que seria o de separar o que Deus tem inseparavelmente unido, e de pensar que elas estão justificadas em Cristo, ou que tiveram seus pecados perdoados, e que sua perfeita obediência foi a elas imputada, quando na verdade elas não foram santificadas, não mudaram sua natureza, e nem foram feitas santas; então pedirei licença para ampliar as palavras do texto da seguinte forma:

Em primeiro lugar, eu devo me esforçar para explicar o que se entende por estar em Cristo: ” Se alguém está em Cristo”.
Em segundo lugar, o que devemos entender por ser uma nova criatura: “Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. ”
Em terceiro lugar, apresentarei alguns argumentos para fazer uma boa defesa da afirmação do que disse o apóstolo.
E em quarto lugar, vou tirar algumas inferências a partir do que pode ser extraído da Palavra , e em seguida, concluir com uma ou duas palavras de exortação.

I. Em primeiro lugar, vou me esforçar para explicar o que se entende por esta expressão no texto: “Se alguém está em Cristo.”

Agora, uma pessoa pode dizer que está em Cristo de duas maneiras. Em primeiro lugar, apenas por uma afirmação exterior. E nesse sentido, todo aquele que é chamado de cristão, ou batizado na igreja de Cristo, pode dizer que está em Cristo. Mas, que esse não é o único significado da frase do apóstolo diante de nós é evidente, porque, então, todo aquele que profere o nome de Cristo, ou é batizado em sua igreja visível, seria uma nova criatura. Tal afirmação é notoriamente falsa, sendo muito evidente, acima de qualquer contradição ou suspeita que comparativamente poucos daqueles que são “nascidos da água”, são “nascidos do Espírito” também. Para usar outra maneira espiritual de falar, muitos são os batizados com água que nunca foram batizados com o Espírito Santo.
Estar em Cristo, portanto, em toda a plenitude do significado da palavra, certamente, deve significar algo mais do que uma profissão exterior vazia, ou de se afirmar ter sido chamado após Seu Nome. Pois, como este mesmo apóstolo nos diz: “nem todos são israelitas os que são de Israel”, então, quando aplicado ao cristianismo, nem todos são verdadeiros cristãos os que são nominalmente ditos como tal. Não, isso está longe de ser o caso, do qual nosso bendito Senhor mesmo nos informa, que muitos que profetizaram ou pregaram em Seu nome, e “em Seu nome expulsamos demônios e fizemos muitos milagres”, não obstante, serão condenados no último dia com o “afastem-se , eu não sei quem são vocês, vis trabalhadores, vós que praticais a iniquidade”.
Resta, portanto, que esta expressão, “se alguém está em Cristo” deve ser entendida em um segundo modo e com significação mais próxima, que é estar nEle, a fim de participar dos benefícios de Seus sofrimentos. Para estar nEle não só por uma profissão externa, mas por uma mudança interior e pureza de coração, e coabitação do seu Espírito Santo. Para estar nEle, de modo a ser misticamente unido a Ele por uma fé viva e verdadeira, e assim receber virtude espiritual dEle, como os membros de um corpo natural o fazem em relação à cabeça, ou os ramos da videira o fazem em relação à videira. Para estar nEle , da forma como o apóstolo, falando de si mesmo, familiariza-nos, ele conhecia uma pessoa que o era, “eu sabia que um homem está em Cristo,” um verdadeiro cristão, ou, como ele mesmo deseja estar em Cristo, quando ele deseja, em sua epístola aos Filipenses, que ele possa ser encontrado nEle.
Este é , sem dúvida, o sentido próprio da expressão do apóstolo nas palavras do texto, de modo que o que ele diz em sua epístola aos Romanos sobre a circuncisão pode muito bem ser aplicado ao presente assunto, que não é um cristão verdadeiro o que o é apenas exteriormente, nem é verdadeiramente batizado aquele que o é apenas, exteriormente, na carne. Mas é um verdadeiro cristão aquele que o é no interior, cujo batismo é o do coração, no espírito, e não apenas na água, cujo louvor não é do homem, mas de Deus. Ou, como ele fala em outra passagem, “nem a circuncisão nem a incircuncisão nada valerão de si mesmas, mas sim o fato de ser uma nova criatura”. O que equivale ao que ele aqui declara no versículo agora considerado, que se alguém está verdadeira e propriamente em Cristo, é uma nova criatura.

II. Isso tudo dito antes leva-me a mostrar, em segundo lugar, o que devemos entender por ser uma nova criatura.

Aqui é evidente, à primeira vista, que essa expressão não é para ser assim explicada como se houvesse uma mudança física necessária a ser feita em nós, ou como se tivéssemos de ser reduzidos aos nossos estados primitivos, e então criados e formados de novo. Pois, supondo que assim fosse, como Nicodemos ignorantemente imaginou, deveriam se inserir uma “segunda vez no ventre de nossa mãe, e nascer de novo”, infelizmente! De que isso serviria ou contribuiria para nos tornar espiritualmente novas criaturas? Uma vez que “o que nasceu da carne seria carne ainda”. Seríamos as mesmas pessoas carnais de sempre, sendo originados de pais carnais e, consequentemente, recebendo as sementes de todos os tipos de pecado e corrupção deles.
Não, isso só significa que temos de ser modificados em nossas qualidades e nos ânimos de nossas mentes, que devemos esquecer completamente a pessoa que já fomos. Como se pode dizer de um pedaço de ouro, que já esteve misturado no minério impuro que depois de ter sido limpo, purificado e polido é uma nova peça de ouro. Como se pode dizer de um vidro brilhante que tenha sido coberto com sujeira, quando é limpo, e assim tornando-se transparente e claro, que é um vidro novo. Ou, como se poderia dizer de Naamã, quando ele se recuperou de sua lepra e sua carne tornou-se como a carne de uma criança, que ele era um novo homem. Assim, nossas almas, ainda que tenhamos cometido pecado, já foram purgadas, purificadas e lavadas de suas escórias naturais, sujeiras e lepra, pela atuação abençoada do Espírito Santo, para que possa verdadeiramente dizer que foram feitas ou nascidas de novo.

Como essa mudança gloriosa é forjada na alma não pode ser facilmente explicado. Porque ninguém conhece os caminhos do Espírito senão o Espírito de Deus. Não que isso deva ser um argumento contra essa doutrina, pois como nosso bendito Senhor observou a Nicodemos, quando discursou sobre esse assunto: “O vento sopra onde lhe apraz, e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai”. Se somos informados sobre as coisas naturais e não as compreendemos, quanto mais devemos perguntar, imediatamente, se não podemos explicar o mover invisível do Espírito Santo?
A verdade da questão é esta: a doutrina da nossa regeneração, ou do novo nascimento em Cristo Jesus, é algo difícil de ser compreendido pelo homem natural.

III. Mas porque tal coisa é realmente assim, e que cada um de nós deve espiritualmente nascer de novo, é que me esforçarei para mostrar, segundo meu discernimento, em terceiro lugar, alguns argumentos que elaborei para fazer uma boa defesa da afirmação do que disse o apóstolo.

A) Aqui se pode pensar que é suficiente para afirmar, primeiro, que o próprio Deus, em Sua Santa Palavra, nos disse essas coisas. Muitos textos podem ser produzidos fora do Antigo Testamento para provar esse ponto, mas, de fato, pode-se perguntar como Nicodemos, que era um mestre em Israel, e que foi, portanto, separado para instruir as pessoas sobre o significado espiritual da lei, pôde ter sido tão ignorante sobre esse grande artigo da religião, como constatamos que ele realmente foi ignorante, por ter perguntado ao nosso bendito Senhor, em seu debate, sobre esse tópico: “Como pode ser isso”? Certamente, ele não poderia esquecer quantas vezes o salmista havia implorado a Deus para dar-lhe “um novo coração” e “renovar um espírito reto dentro de si”.
Como da mesma forma, a frequência com que os profetas haviam advertido às pessoas para torná-las “novos corações” e novas mentes, e assim convertendo-as ao Senhor seu Deus. Mas, para não mencionar esses textos do Antigo Testamento, essa doutrina é tantas vezes e claramente repetida no Novo, que como observei antes, aquele que passa correndo pode ler. Pois o que diz o grande Profeta e Instrutor do próprio mundo: “Se um homem (cada um que é, naturalmente, da descendência de Adão) não nascer de novo da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”. E para que não se diga que passei apresssadamente sobre o significado dessa afirmação, e vocês, como Nicodemos, venham a rejeitar a doutrina apenas porque não podemos imediatamente explicar “como essa coisa pode ser”, portanto, nosso bendito Mestre afirma, por assim dizer, por um juramento: “Em verdade, em verdade, digo-vos “, ou, como ele pode ser lido, “eu, o Amém, eu, que sou a própria verdade, vos digo que é o compromisso inalterável de meu Pai celestial que ‘se alguém não nascer de novo, não poderá entrar no Reino de Deus’”.

Adequadas para isso são aquelas muitas passagens que encontramos nas epístolas, em que somos ordenados a sermos “renovados no Espírito”, ou, como foi explicado antes, nas faculdades mais íntimas de nossas mentes: a “sepultar o velho homem, que é corrupto, e para estabelecer o novo homem, que é criado segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade”, de quem “as coisas velhas devem passar longe, e que todas as coisas devem ser feitas novas”, que seremos “salvos pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo”. Ou, como me parece, não houve outra passagem a ser produzida além das palavras do texto, que é completo o suficiente, uma vez que o apóstolo afirma nele positivamente que “se alguém está em Cristo, é uma nova criatura”.
Multidões de outros textos podem ser citados para confirmar essa mesma verdade, mas os já citados são tão claros e convincentes, que se poderia imaginar que ninguém deveria esquecer ou negar, como se não houvera sido dito, que há alguns “que tendo olhos, não veem, e tendo ouvidos, não ouvem, e que não entendem com o coração, ou ouvem com os ouvidos, para que não se convertam, e Cristo os cure”.

B) Mas agora avançarei para um segundo argumento, o qual deve ser tomado a partir da pureza de Deus e do presente estado corrupto e poluído do homem.
Deus é descrito na Sagrada Escritura, e eu falo para aqueles que professam conhecer a Escritura, como um Espírito, como um Ser de tal santidade infinita, a ponto de ser de “olhos tão puros que não pode contemplar a iniquidade”, como o Ser tão transcendentemente Santo que se diz “os próprios céus não são puros aos seus olhos e aos próprios anjos ele atribui loucura”. Por outro lado, o homem é descrito, (e cada pessoa regenerada vai achar que é verdade por experiência própria) como uma criatura completamente “concebida e nascida em pecado”, como não tendo “nenhuma coisa boa habitando nele”, como sendo “carnal, vendido sob o pecado”, ou melhor, como tendo “uma mente que está em inimizade com Deus”, e outras coisas tais como essas. E uma vez que há uma disparidade tão infinita, uma vez que qualquer um pode conceber-se como um sujo, corrompido, miserável, poluído, como poderá tal pessoa viver com um Deus infinitamente puro e santo antes que ele seja transformado e se faça em alguma medida como Ele? Pode Ele, que é tão puro de olhos para contemplar a iniquidade, habitar com o pecador? Ele, para cujos olhos os céus não são limpos, pode agradar-se em habitar com a impureza? Não poderíamos também supor que a luz poderia ter comunhão com as trevas, ou que Cristo poderia estar de acordo com Belial, então?

C) Mas eu vou passar para um terceiro argumento, que será estabelecido sobre a consideração da natureza do que é a felicidade que Deus preparou para aqueles que sinceramente O amam.
Abordar brevemente e apresentar uma descrição particular do céu seria vão e presunçoso para os seguidores sinceros do Santo Jesus, mesmo nesta vida, muito menos na que está por vir, falar das coisas que “o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não tem entrado no coração do homem conceber as coisas que estão lá preparadas “. No entanto, podemos nos aventurar a afirmar que, em geral, como Deus é um Espírito, que a felicidade que Ele estabeleceu para Seu povo é espiritual da mesma forma, e consequentemente, a não ser que nossas mentes carnais sejam alteradas e espiritualizadas, nunca poderemos nos reunir para participar da herança dos santos na luz.
É, sem dúvida, por essa razão, que o apóstolo declara que este é o decreto irrevogável do Todo-Poderoso, que “sem santidade, (sem ter sido feito puro por regeneração, e tendo a imagem de Deus assim impressa profundamente na alma) não podem ver o Senhor”. E é bastante notório que nosso divino Mestre, na famosa passagem antes referida a respeito da necessidade absoluta de regeneração, não tenha dito que “a não ser que se alguém não nascer de novo, ele não deve”, mas efetivamente disse que “a menos que alguém nasça de novo, não pode entrar no Reino de Deus” é fundada na própria natureza das coisas, e que devemos ter esta nova disposição forjada em nós adequadamente para lidar com as coisas que estão a nos entreter, de maneira a podermos manter alguma forma de complacência ou satisfação nelas. Por exemplo, que prazer pode a música mais harmoniosa dar ao deleite de um homem surdo, ou que prazer pode a mais excelente imagem dar a um cego?
Pode alguém sem paladar sentir o sabor e saborear as iguarias mais ricas, ou um porco imundo estar satisfeito em contemplar o melhor jardim de flores? Não! E qual a razão que pode ser atribuída a isso? A resposta é imediata, a saber, porque eles não têm delas nenhuma disposição mental correspondente ou agradável, consequentemente, estão excluídos delas. E assim também se passa com a alma, pois a morte não fará mais alterações na alma, nem ampliará as suas faculdades e tampouco tornará a pessoa capaz de receber impressões mais profundas de prazer ou de dor. Se há deleite em conversar com Deus aqui, ele será transportado com a visão de sua gloriosa Majestade no porvir. Se a pessoa estava satisfeita com a comunhão dos santos na terra, estará infinitamente mais satisfeita com a comunhão e a sociedade dos santos anjos e os espíritos dos justos aperfeiçoados no céu. Mas se o oposto de tudo isso for verdade, podemos nos assegurar de que a alma não poderia ser feliz, e como o próprio Deus o admite, Ele nunca vai fazer com que ela vá para as regiões dos bem-aventurados.

D) Mas é hora de eu correr para o quarto argumento, porque a redenção de Cristo não será completa em nós, a menos que sejamos novas criaturas. Não se extender para do que apenas adquirir perdão de nossos pecados
Se refletirmos, de fato, no primeiro e principal fim da abençoadora vinda do Senhor, veremos que foi para ser uma propiciação pelos nossos pecados, para dar a Sua vida em resgate de muitos. Mas, então, se os benefícios da morte do nosso querido Redentor não se estender mais do que apenas obter o perdão de nossos pecados, nós teremos um pequeno motivo para nos alegrar, da mesma maneira que um pobre criminoso condenado que está prestes a perecer por uma doença fatal teria pouco em receber o perdão do seu juiz. Para os cristãos, faria bem considerar que não há apenas um obstáculo legal para a nossa felicidade, já que como somos transgressores da lei de Deus, mas também há uma impureza moral em nossa natureza que nos torna incapazes de apreciar o céu, como foi provado antes, até que alguma grande mudança seja operada em nós. É necessário, portanto, a fim de tornar a redenção de Cristo completa, que devamos ter uma concessão do Espírito Santo de Deus para mudar nossa natureza, e assim nos preparar para a apreciação daquela felicidade que nosso Salvador comprou com Seu precioso sangue.

Assim as Escrituras Sagradas nos informam que a quem Cristo justifica, ou cujos pecados Ele perdoa, e a quem Ele imputa Sua perfeita obediência, a esses Ele também santifica, purifica, limpa e muda totalmente suas naturezas corrompidas. Como a Escritura também fala em outro lugar, “Cristo é para nós a justificação, santificação e redenção”.

IV. Em quarto lugar, irei avançar para a próxima proposta, a de tirar algumas inferências a partir do que foi transmitido.

Primeiro, se aquele que está em Cristo é uma nova criatura, isso pode servir como uma reprovação para aqueles que descansam em uma performance nula de obrigações exteriores sem perceber qualquer mudança interior real do coração.
Podemos observar um grande número de pessoas que são muito pontuais nas suas manifestações regulares de oração pública e privada, como também de receber a comunhão santamente, e, talvez, de vez em quando, ajudar rapidamente em algo. Mas aqui há a desgraça, pois eles descansam apenas no uso e observação dos meios, e acham que tudo está acabado e realizado quando eles cumprem as instituições sagradas. Considerando que foram informados corretamente, eles irão supor que todos os meios da graça instituídos, como a oração, o jejum, audição e leitura da Palavra de Deus, receber o sacramento abençoado, e tudo o mais, não estão sendo tão aproveitáveis para nós como são para eles, e então quererão nos aconselhar a que sejamos interiormente melhores, e que devemos buscar a vida espiritual na alma. .
É verdade, são meios e nada além disso, são apenas meios. Fazem parte, mas não são toda a religião. No caso afirmativo, quem seria mais religioso do que o fariseu? Ele jejuou duas vezes na semana, deu o dízimo de tudo que possuía e, apesar disso, não foi justificado, como nosso próprio Salvador nos informa, aos olhos de Deus. Você talvez, como o fariseu, pode jejuar com frequência e fazer longas orações. Você pode, como Herodes, ouvir bons sermões de bom grado. Mas, ainda assim, se você continua sendo vaidoso e fútil, imoral ou mundano, e diferir do resto de seus vizinhos maus apenas por ir à igreja ou no cumprimento de algumas performances exteriores, você será melhor do que eles? Não, de modo algum. Você é de longe muito pior. Porque, se você usar dos meios, e, ao mesmo tempo, abusar deles, você estará assim incentivando outras pessoas a pensarem que não há nada neles e, portanto, você deve esperar receber maior condenação.
Em segundo lugar, se aquele que está em Cristo é uma nova criatura, então este pode verificar a presunção infundada de uma outra classe de pessoas que professam ser cristãs, que repousam na obtenção de algumas virtudes morais, e, mentindo, imaginam que são bons cristãos só porque são justos nos seus relacionamentos, têm temperança no comer e não fazem nenhum dano ou violência a qualquer homem.

Mas se isso é tudo o que é necessário para fazer de nós cristãos, por que talvez não supor que os pagãos da antiguidade tenham sido bons cristãos, já que eram notáveis por essas virtudes? Ou Paulo antes de sua conversão, que nos relata como ele viveu em toda a boa consciência? Mas nós descobrimos que ele renuncia a toda a dependência de obras dessa natureza, e só deseja ser encontrado em Cristo e conhecer o poder da Sua ressurreição, ou ter uma prova experimental de receber o Espírito Santo, comprado para ele com a morte, e assegurada e aplicada a ele pela ressurreição de Jesus Cristo.
A síntese da questão é esta: o cristianismo inclui a moralidade, como a graça o faz com a razão, mas se somos apenas meros moralistas, se não estivermos interiormente renovados espiritualmente e mudados pelas operações poderosas do Espírito Santo, e se nossas ações morais não resultam proceder a partir de um princípio de uma nova natureza, então, não poderemos nos chamar cristãos, e seremos encontrados nus no Grande Dia, não sendo contados no número de pessoas que têm a justiça de Cristo imputada a eles para sua justificação, nem santidade suficiente em suas almas, para fazê-las cumprir as exigências para o prazer de Deus.
Em terceiro lugar, esta doutrina irá condenar menos aqueles que descansam em uma alteração parcial de si mesmos sem experimentar uma verdadeira mudança completa dentro do coração?
Um pouco de familiaridade com o mundo vai nos fornecer exemplos, de um não pequeno número de pessoas que, talvez, tenham sido antes abertamente profanas, mas vendo as consequências danosas de seus vícios, e os muitos inconvenientes do mundo, reduziu-os para, de repente, por assim dizer, tornarem-se civilizados. Eles se gabam por isso, achando que são muito religiosos, pois eles diferem um pouco dos seus antigos eus, e não são tão escandalosamente perversos como antes eles eram. Devemos considerar, no entanto, que eles devem ter algum pecado secreto querido ou outra transgressão, algumas Dalilas amadas ou Herodias, que eles não vão querer deixar, alguma luxúria oculta, que eles não vão mortificar, algum hábito vicioso, que eles não querem ter dores para extirpar. Mas o que você gostaria de saber, ó homem vão? Quem é, e o que o Senhor seu Deus requer de você? Você deve ser informado de que nada menos do que uma conversão completa vai levá-lo para o Reino dos céus. Não é o suficiente para tal transformação apenas deixar de profanar a civilidade, mas você deve mudar a partir da civilidade à piedade. Não só algumas, mas “todas as coisas devem ser feitas novas” na sua alma. Vai valer algo para você, mas muito pouco, fazer muitas coisas, se ainda uma coisa lhe faltar. Em suma, você não só deve ser uma quase nova criatura, mas completamente uma nova criatura, ou em vão se gaba de que é cristão.

Em quarto lugar, se aquele que está em Cristo é uma nova criatura, então isso pode ser prescrito como uma regra infalível para todas as pessoas de qualquer denominação, idade, grau ou qualidade, a julgar por si mesmo, sendo esta a única base sólida sobre a qual podemos construir uma garantia bem fundamentada de perdão, paz e felicidade.
Podemos realmente depender da “cana quebrada” de uma profissão externa. Podemos pensar que somos bons o suficiente, sóbrios, honestos, com vidas morais, como muitos pagãos fizeram. Podemos imaginar que estamos em condições de segurança, se comparecemos nos ofícios públicos da religião, e se somos fiéis nas nossas obrigações mesmo quando não somos vistos. Mas a menos que todas essas características tendam a reformar as nossas vidas, e a mudar os nossos corações, e sejam utilizadas apenas como tantos outros canais da graça divina, como eu disse antes, então eu digo mais uma vez, o cristianismo nada lhes aproveitará.
Que cada um de nós, portanto, seriamente coloque esta questão nos corações: temos recebido o Espírito Santo desde que cremos? Somos novas criaturas em Cristo ou não? Pelo menos, se não somos assim, ao menos temos feito o nosso esforço diário para nos tornar semelhantes a Ele? Nós constantemente e conscientemente temos usado todos os meios da graça de que dispomos para isso? Temos jejuado, vigiado e orado? Não nos temos portado preguiçosamente, mas temos buscado laboriosamente como os que se esforçam para entrar pela porta estreita? Em suma, podemos renunciar à nossa própria justiça, tomar nossa cruz e seguir a Cristo? Se assim for, estamos nesse caminho estreito que conduz à vida, a boa semente é semeada em nossos corações, e, se devidamente regada e alimentada por um uso perseverante e regular de todos os meios da graça, estamos crescendo para a vida eterna. Mas, ao contrário, se só temos ouvido, e não temos experimentado se há algum Espírito Santo, se nós somos estranhos para o jejum, a vigília e a oração, e todos os outros exercícios espirituais de devoção – se nos contentamos em ir pelo caminho largo só porque vemos a maioria das outras pessoas fazê-lo, sem sequer por uma vez refletir se é o caminho certo ou não, em suma, se nós somos estranhos, e pior ainda, inimigos da cruz de Cristo, pela vida de mentalidade mundana e prazer sensual que levamos, e assim fazendo os outros pensarem que o cristianismo é apenas um nome vazio, um vazio formal de profissão de fé , se esse for o caso, eu digo, Cristo terá morrido em vão para nós, que estamos sob a culpa dos nossos pecados e não estamos familiarizados com uma verdadeira e completa conversão.

Mas querido, eu estou certo de coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, e ainda que eu fale assim, eu humildemente espero que você esteja sinceramente convencido de que aquele que não tem o Espírito de Cristo não é dEle e que, a menos que o Espírito, que ressuscitou Jesus dentre os mortos, habite em vocês aqui, tampouco seu corpo mortal será vivificado pelo mesmo Espírito para habitar com Ele depois da morte.
Permitam-me, portanto, como foi proposto, sinceramente exortar, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, para que você aja segundo essas convicções, e que vivamos como cristãos, que são ordenados pelas Sagradas Escrituras a “lançar fora o velho homem e colocar em seu lugar o novo homem, que é criado por Deus em verdadeira justiça e santidade”.
Deve ser reconhecido, de fato, que este é um grande e difícil trabalho, mas bendito seja Deus, não é impossível. Muitas milhares de almas felizes têm sido assistidas por um poder divino para realizá-lo, e por que devemos desesperar de obter sucesso? Está a mão de Deus encurtada que não possa salvar? Ele foi o Deus de nossos pais? Não é Ele o Deus de seus filhos também? Sim, sem dúvida, de seus filhos também. Esta é uma tarefa que irá nos causar alguma dor. Isso vai nos obrigar a deixar de lado algum desejo, a romper com algum amigo, a mortificar alguma paixão amada, que pode ser superior ao que quereríamos para nós, e talvez até seja tão difícil de deixar como cortar uma mão direita ou arrancar um olho direito. Mas o que são todas essas coisas? Não vai valer a pena tornar-se um verdadeiro membro vivo de Cristo, um filho de Deus e um herdeiro do Reino dos céus, sendo abundantemente mais valiosa, esta compensação diante de qualquer problema que surja? Sem dúvida que sim.
A definição sobre a realização e do grande e necessário trabalho talvez possa, ou melhor, seguramente poderá, nos expor ao ridículo da parte irracional da humanidade que vai saber que não vamos para o mesmo desenfreamento de dissolução com eles, e porque negamos os nossos apetites pecaminosos, e não estamos conformados com este mundo, sendo ordenados nas Escrituras a nos separar para Deus, e ter a nossa atenção ao céu em oposição ao inimigo, eles podem considerar a nossa vida como loucura, e nosso fim o de ficar sem honra. Mas não é o estar sendo contado entre os santos, e vir a brilhar como as estrelas, para sempre e sempre, uma recompensa mais do que suficiente para todo o ridículo, calúnia, ou reprovação que possivelmente poderemos encontrar por aqui?

Na verdade, não houve outra recompensa a quem participou de uma conversão completa do que a paz de Deus, que é a consequência inevitável da mesma recompensa, e que, mesmo nesta vida, “excede todo o entendimento”, é a que devemos ter como grande motivo para nos alegrarmos. Mas quando consideramos que esta é a menor das misericórdias que Deus tem preparado para aqueles que estão em Cristo e se tornam novas criaturas, e que, este é apenas o início de uma sucessão eterna de prazeres a partir do dia da nossa morte, e do qual os não convertidos, pecadores não regenerados, têm tanto medo, será, por assim dizer, o primeiro dia dos nossos novos nascimentos, e nos abrirá uma cena eterna de felicidade e conforto. Em suma, se nos lembrarmos de que os que são regenerados e nascidos de novo têm um título real para todas as gloriosas promessas do evangelho, e estão infalivelmente certos de ser tão felizes, tanto aqui e no futuro, como um todo-sábio, todo- misericordioso e todo-poderoso Deus pode torná-los; parece-me que, para cada um que tenha um mínimo de preocupação com a salvação de sua preciosa e imortal alma, ter tais promessas e tal esperança como uma eternidade de felicidade definida o quanto antes, nunca deve deixar de estar presente em nosso pensamento, o que leva que estejamos buscando sem cessar, orando e lutando, uma experimental e real transformação salvadora em nosso coração e, assim, tendo conhecimento da verdade de que tal pessoa habita em Cristo e Cristo nele, que ele é uma nova criatura, portanto, um filho de Deus, que ele já é um herdeiro, e dentro em breve será um possuidor real do Reino do céu, aos quais Deus, de sua concessão infinita misericórdia garantiu, por meio de Jesus Cristo nosso Senhor.
Fonte: projetocasteloforte.com.br
 


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