O pregador cristão, quer esteja pregando a partir do AT, quer do NT, deve apresentar Cristo como o referencial
Um foco crítico para várias dessas questões hermenêuticas é a própria questão prática de quando Cristo deve ser pregado no AT. “Ouço poucos sermões sobre Jesus” diz o início de um recente e interessante lamento da ala liberal.” O pregador cristão, quer esteja pregando a partir do AT, quer do NT, deve apresentar Cristo como o referencial. O pregador cristão não pode pregar nenhum texto do AT como se fosse um rabino, porque o cumprimento das promessas se deu em Cristo, e vivemos debaixo da nova aliança. O pregador cristão tem um caso de amor eterno com o AT, a Bíblia que Cristo e os apóstolos tanto prezavam. A nossa pregação de qualquer parte das Escrituras deve inserir-se dentro de uma clara percepção do constructo [construção mental] teológico e, para o pregador cristão, esse constructo é cristocêntrico.
Nesse sentido, toda pregação bíblica é doutrinária. A nossa pregação está dentro de um sistema de compreensão. Esse constructo teológico deve ser o produto da exegese, da teologia bíblica, da teologia histórica e da teologia sistemática. A fraqueza da pregação sem essa consciência de construção é dolorosa para a congregação com o passar do tempo, embora talvez os membros não sejam capazes de mostrar exatamente qual é o problema. A falta de continuidade e coesão e a incoerência geral encontrada em muitas pregações somente ratificam que, embora haja análise, não tem havido uma quantidade significativa de síntese.
As promessas do Antigo Testamento se cumprem em Cristo
A Declaração de Chicago sobre a Hermenêutica Bíblica (1982) afirma de maneira inequívoca: “A pessoa e a obra de Jesus Cristo são o foco central de toda a Bíblia. Afirmamos que não é correto nenhum método de interpretação que rejeite ou obscureça a centralidade de Cristo na Bíblia”. É desse modo que nosso Senhor via as Escrituras do AT: “E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” (Lc 24.27). Jesus disse sobre o AT: “São as Escrituras que testemunham a meu respeito” (Jo 5.39). Os pregadores apostólicos viram o cumprimento do AT em Cristo e pregaram a Cristo conforme ele foi anunciado no AT (At 2.31; 3.24,25; 8.35 e outras passagens). Paulo via o AT de maneira cristológica (2Co 1.20). Hebreus é um exemplo particularmente vivo de enxergar o AT a partir da plenitude da revelação em Cristo presente no NT (p.ex. Hb 10.7).
A pessoa e a obra de Jesus Cristo são o foco central de toda a Bíblia.
Não possuímos um manual de interpretação do AT escrito pelos apóstolos, como Richard N. Longnecker mostrou tão brilhantemente na obra Biblical exegesis in the apostolic period [Exegese bíblica no período apostólico]. Mais uma vez ficamos impressionados com o fato de que a hermenêutica nāo é uma ciência exata. O que está claro é que Jesus Cristo, como o unigênito filho de Deus, está no centro do “eterno plano” de Deus. É a vontade de Deus que “em tudo [Cristo] tenha a supremacia” (Cl 1.18). É o contínuo e fiel ministério do Espírito Santo para glorificar e dar testemunho de Cristo. Ele é o único caminho para o Pai, o único e suficiente mediador, por meio de quem podemos ser salvos, como se afirma em João 14.6, 1Timóteo 2.5 e Atos 4.12.
Um sermão sem Jesus é um jardim sem flores.
Desse modo, Paulo insistia frequentemente que pregava a Jesus Cristo, o Senhor crucificado. O tema mais perfeito do pregador cristão deve ser o Senhor Jesus Cristo. Charles Haddon Spurgeon disse que a verdadeira magnificência da pregação é exaltar nela a pessoa de Cristo. A história da pregação corrobora a alegação de Ronald Ward: “Se o pregador se abstém de comunicar a Cristo, ele não está pregando”. O que era verdadeiro para os pais da igreja, os reformadores, os puritanos, para John Wesley e Alexander Maclaren não é menos verdadeiro para nós. Um sermão sem Jesus é um jardim sem flores.
Excerto da obra Anatomia da Pregação